Maçons Livres e Aceitos

Especula-se que a Maçonaria teria nascido do trabalho dos construtores de catedrais medievais, que organizavam-se criando sua própria sociedade, a então Maçonaria Operativa. Estes pedreiros deslocavam-se continuamente de canteiros em canteiros (lodges), livres da autoridade das corporações, da nobreza e da Igreja, e sem compromisso de pagarem impostos. Por isto, o nome de Pedreiros Livres (freemasons ou franc-maçon), cuja importância se desenvolveu do século XII ao XIV.
Com o Renascimento, o Protestantismo opõe-se à Igreja Católica, abalando Roma e provocando uma ruptura dentro do Mundo Cristão. Galileu, baseando suas idéias na ciência e na matemática, abriu aos pesquisadores de sua época um novo mundo e provou que o Universo era infinito. A Ciência progrediu rapidamente e uma divisão foi estabelecida entre o dogma da religião e o mundo de razão.
No fim do século XVII, surgiu a idéia de um deísmo que, pouco a pouco, conduziu à noção de um Criador, como "Grande Arquiteto", criando um mundo de acordo com regras imutáveis.

Maçonaria Especulativa (Maçonaria Moderna)

Possivelmente, a Moderna Maçonaria tenha se originado na Escócia para onde foram, segundo algumas lendas, diversos membros templários, fugindo da Inquisição da Igreja Católica. Eles teriam se associado à Guildas Maçônicas passando a estas, vários de seus conhecimentos filosóficos e esotéricos. O próprio Robert de Bruce, o rei que libertou a Escócia da dominação inglesa, pertencia à sociedade maçônica.
Como se vê, a transição da Maçonaria Operativa para a Maçonaria Especulativa (forma como esta organização apresenta-se hoje) dá-se de forma imperceptível. As Lojas de Maçons Operativos foram progressivamente recebendo membros que não pertenciam ao ofício da construção (membros da nobreza, burguesia e clero), que eram chamados de "Maçons Aceitos", e que podiam participar de suas discussões após serem iniciados.
No início do século XVIII aparece a franco-maçonaria moderna, com orientação interna baseada no Livro das Constituições publicado em 1723 por James Anderson, que exerceu influência internacional no pensamento das sociedades modernas, difundindo-se principalmente, nos países anglo-saxônicos.
A evolução da Maçonaria Especulativa é marcada, então, por uma secularização característica contendo, de acordo com a ideologia das Constituições de Anderson, um fundamento no qual todos os homens parecem concordar: o deísmo, que é uma forma de religião natural, livre de todo dogma e que busca a felicidade em qualquer lugar. Outro fato importante que influencia a maçonaria no século XVIII, é a tendência à universalidade que se manifesta por uma abertura muito próxima aos pensamentos dos Iluministas, caracterizados pelo respeito à tolerância e à fraternidade. A Revolução consagrou este estado de espírito, manifestado por muitos maçons, com a defesa dos Direitos Humanos e do Cidadão, a luta incansável contra toda forma de escravidão, e a rejeição de todo o dogmatismo.
A maçonaria teve influência decisiva em grandes acontecimentos mundiais, tais como a Revolução Francesa e a Independência dos Estados Unidos.


Então... porque "maçons livres e aceitos"?!

São dois tipos de maçons que existem! os MAÇONS LIVRES são aqueles que praticam a MAÇONARIA OPERATIVA, que trabalhavam como construtores e trabalhavam com a trigonometria. Já os MAÇONS ACEITOS  são os que praticam a MAÇONARIA ESPECULATIVA, começaram com os pensadores que uniram-se aos maçons livres e introduziram na maçonaria o estudo das ciências, como a filosofia, alquimia, etc.


Precisa-se de matéira prima...


A Maçonaria no cinema...

Existem inúmeros filmes que abordam o simbolismo maçônico, uns de maneira subliminar e já outros de formas mais explicitas. Relacionamos logo abaixo filmes que têm relação ou citam de alguma forma nossa instituição. Confira!

O IMPERADOR E O REI
Brasil. 1999
Gênero:
 Histórico
DIREÇÃO: Sérgio Resende
Sinopse:
O filme mostra a infância, o enriquecimento e a falência de Irineu Evangelista de Souza (1813-1889), o empreendedor gaúcho mais conhecido como barão de Mauá, considerado o primeiro grande empresário brasileiro, responsável por uma série de iniciativas modernizadoras para economia nacional, ao longo do século XlX. Mauá, um vanguardista em sua época, arrojado em sua luta pela industrialização do Brasil, tanto era recebido com tapete vermelho, como chutado pela porta dos fundos por D. Pedro II.
Maçonaria:
Aborda a iniciação na Maçonaria de Irineu Evangelista de Souza (1813 - 1889), conhecido como Barão de Mauá.
____________________________________________________________________

Do Inferno (From Hell)
EUA, 2001
Gênero:
 suspense
Diretores: Albert e Allen Hughes
Sinopse:
No tempo em que Jack, O Estripador atacava nas ruas de Londres, o terror reinava. A selvageria de seus assassinatos indicava insanidade, mas a precisão diabólica comprovava que havia um método em tal loucura. Johnny Depp e Heather Graham estrelam este triller intrigante, narrado com grande estilo, que aperta sua garganta de forma esmagadora e fere profundamente como uma faca afiada à medida que revela uma conspiração chocante que, segundo alegações, envolveu os grandes poderosos da Inglaterra daquela época.
Maçonaria:
Maçonaria aparece como pano de fundo para os assassinatos de Jack - ele próprio um maçom.
____________________________________________________________________
A Lenda do Tesouro Perdido (National Treasure)
EUA, 2004
Gênero: aventura
Diretor: Jon Turteltaub
Sinopse:
Benjamin Franklin Gates (Nicolas Cage) é um caçador de tesouros, função que já está na 3ª geração em sua família. Durante toda sua vida Benjamin procurou um tesouro que ninguém acredita existir, tendo sido acumulado durante séculos e transportado por vários continentes para evitar que fosse roubado. As investigações de Benjamin sobre a localização deste tesouro fazem com que ele descubra que existe um mapa codificado escondido na Declaração de Independência dos Estados Unidos. Só que para conseguir lê-lo Benjamin terá que enganar o FBI e roubar um dos documentos mais vigiados do país.
Maçonaria:
Não dá para destacar passagens - o filme inteiro é uma grande referência à Ordem.
____________________________________________________________________

Peggy Sue - O passado a espera (Peggy Sue got married)
EUA, 1986
Gênero: comédia
Diretor: Francis Ford Coppola
Sinopse:
Peggy Sue (Kathleen Turner), mãe, divorciando-se de Charlie Bodell (Nicolas Cage) aos 43 anos de idade, ao organizar uma festa de ex-alunos da Escola, volta no tempo. Apesar de poder redirecionar sua vida, acaba fazendo as mesmas escolhas.
Maçonaria:
O avô de Peggy pertence à Loja dos viajantes do tempo, mostrando um ritual da mesma.
____________________________________________________________________
Como Água Para Chocolate
México, 1992
Gênero: Drama
Diretor: Alfonso Arau
Sinopse:
Baseado em romance do mesmo nome de Laura Esquivel, Como Água para Chocolate acompanha a história de um camponês chamado Pedro (Marco Leonardi) que, em 1910, em plena Revolução Mexicana, se apaixona por Titi (Lumi Cavazos). Ele quer voltar para a Guerra, mas ela o enfeitiça com seu amor e seus dotes culinários. Podia ser apenas mais uma história de amor, mas se trata de um dos mais belos filmes do cinema latino-americano em todos os tempos. Foi a produção estrangeira de maior bilheteria nos Estados Unidos em 1993.
Maçonaria:
Ritual fúnebre de corpo presente; explicações sobre o sentido da vida com símbolos que remetem à maçonaria.
____________________________________________________________________

Teoria da Conspiração (Conspiracy Theory)

EUA, 1997

Gênero: suspense

Diretor: Richard Donner

Sinopse:

O motorista de táxi Jerry Fletcher (Mel Gibson) acredita que o mundo em que vivemos está repleto de perigosas e assustadoras conspirações. Sua vida é uma loucura completa, sempre está em estado de alerta...sempre pronto para o pior. O emprego como motorista é apenas uma fachada para seu verdadeiro trabalho: reunir informações sobre novas ameaças ao redor do mundo e reuni-las em um informativo chamado "Teoria da Conspiração". Ningúem nunca se importou com as idéias absurdas de Jerry - até então. Perseguido por inimigos desconhecidos, Jerry sabe que finalmente desmascarou uma conspiração de verdade. Agora sua única chance de sobreviver é contar com a ajuda da advogada Alice Sutton (Julia Roberts), para descobrir qual a verdade que deve ser revelada ao mundo.

Maçonaria:

Em uma das cenas, Mel Gibson diz: "Os Maçons estão tentando melhorar o mundo. George Bush é maçom, grau 33."
____________________________________________________________________

Fim dos Dias (End of Days)

EUA, 1999

Gênero: terror

Diretor: Peter Hyams

Sinopse:

Jericho Cane (Arnold Schwarzenegger) é um ex-policial que se vê diante de uma terrível luta entre a encarnação humana do demônio (Gabriel Byrne) e uma jovem e inocente mulher (Robin Tunney) escolhida para ser a mãe do Anticristo. À medida que os ponteiros do relógio avançam para a realização da profecia que pode levar ao fim do mundo, Jericho, sozinho; precisa proteger essa garota e livrar toda a humanidade de um destino completamente apavorante.

Maçonaria:

Em determinado momento Jericho diz: "Agora este amuleto é da ordem maçônica do antigo sub-heredom dos Cavaleiros do Vaticano, Cavaleiros do Olho Sagrado. Eles aguardam a volta do anjo negro à Terra."
____________________________________________________________________

MAGNÓLIA (Magnolia)

EUA, 1999

Gênero: drama

Diretor: Paul Thomas Anderson

Sinopse:

Big Earl Partridge (Jason Robards) é um produtor de TV à beira da morte que deseja reencontrar o filho. Phill (Phillip Seymour Hoffman) é seu dedicado enfermeiro e Linda (Juliane Moore), sua jovem esposa. Frank (Tom Cruise), é um célebre guru machista, é o filho que Big Earl procura. Jimmy Gator (Philip Baker Hall) é o apresentador do famoso programa de TV que também está com câncer e procurando se entender com a filha Cláudia, cocainomaníaca. Stanley é um garoto-prodígio manipulado pelo pai oportunista. O ponto comum entre essa gente? Todos vivem num bairro de Los Angeles cortado por uma rua chamada Magnólia.

Maçonaria:

Em uma das cenas, aparece um símbolo maçônico em uma enciclopédia, no instante em que um garoto estuda pela TV através de um game show. Em uma outra cena, um produtor de TV apóia sua mão no ombro do apresentador, mostrando um anel com símbolo maçônico, e dizendo "Nos encontramos entre o nível e o esquadro".
____________________________________________________________________

Horizonte Perdido (Lost Horizon)
EUA, 1937
Gênero: aventura
Diretor: Frank Capra
Sinopse:
O diplomata inglês Robert Conwal (Ronald Colman) e outros sobreviventes de um desastre aéreo chegam à cidade perdida de Shangri-lá, nos Montes Himalaias. Isolados do mundo em guerra, os habitantes da cidade têm um mistério e motivos para não sairem de lá.
Maçonaria:
Alexander (Edward Everett Horton) diz: "Eu encontrei um manuscrito que explica o significado oculto por trás de todos os símbolos maçônicos".
____________________________________________________________________

O Homem Que Queria Ser Rei (The Man Who Would Be King)

Inglaterra - EUA, 1975

Gênero: aventura

Diretor: John Huston

Sinopse:

Daniel Dravot (Sean Connery) e Peachy Carnehan (Michael Caine) são dois amigos que firmam um contrato um com o outro: viajar para um país distante, Kafiristan, e ajudar os líderes locais a vencerem seus inimigos. Quando tiverem conseguido seu intento, eles derrubariam estes 'líderes' e se tornariam os reis da região. Em caso de perigo, um deve ajudar o outro, reza o contrato, assinado por ambos e por uma testemunha: o editor de um pequeno jornal, Rudyard Kipling (Christopher Plummer).

Maçonaria:

No início do filme, Carnehan rouba um relógio de Kipling e, ao abrir o mesmo, vê que são Irmãos... Se identificam como maçons... a partir daí, o filme passa à aventura até que se descobrem em uma tribo perdida cujo último grande Rei teria sido Alexandre o Grande.
____________________________________________________________________

Assassinato por Decreto (Murder by Decree)

Inglaterra - Canadá, 1979

Gênero: ação

Diretor: Bob Clark

Sinopse:

Sherlock Holmes (Christopher Plummer), auxiliado pelo Dr. Watson (James Mason), tenta decifrar as pistas que levarão ao assassino Jack, o Estripador, mas, descobre uma conspiração para acobertá-lo.

Maçonaria:

Dentre os amigos que tantam acobertar Jack, vários são maçons.

____________________________________________________________________

Independência ou Morte

Brasil, 1972
Gênero: histórico

Diretor: Carlos Coimbra

Sinopse:

Tendo como ponto de partida o dia da abdicação de D. Pedro I (Tarcísio Meira), é traçado um perfil do monarca, desde quando ainda menino veio da Europa, quando sua família fugia das tropas napoleônicas e sua ascensão à Príncipe Regente, quando D. João VI (Manuel da Nóbrega) retornou para Portugal. Em pouco tempo a situação política torna-se insustentável e o regente proclama a independência, mas seu envolvimento extraconjugal com a futura Marquesa de Santos (Glória Menezes) provoca oposição em diversos setores e José Bonifácio de Andrada e Silva (Dionísio Azevedo) pede demissão do Ministério, mas este não seria o único caso, que ministros e nobres entrariam em choque com o imperador por causa da marquesa, que permanentemente influenciava as decisões do soberano, mas tudo isto causava um inevitável desgaste político.

Maçonaria:

Cenas da Iniciação de Dom Pedro, do discurso de Gonçalves Ledo, do fechamento do Grande Oriente.
____________________________________________________________________


Revelações Perigosas (Secrets)

Inglaterra, 1983

Gênero: drama

Diretor: Gavin Millar

Sinopse:

História de uma gartota de 13 anos, Louise (Anna Jones), que vive com sua mãe (Helen Lindsay). Louise descobre que seu falecido pai possuía documentos secretos, e, através de sua curiosidade, descobre que o mesmo era Maçom. O filme foi feito para uma série da televisão inglesa, "First Love", e não há registro de ter sido lançado em vídeo ou DVD.

Maçonaria:

Louise tenta explicar às suas amigas o que é a Maçonaria, além de tentar repetir seus rituais.

____________________________________________________________________


A Liga Extraordinária (The League of Extraordinary Gentleman)

EUA, 2003
Diretor: Stephen Norrington

Genero: Aventura

Sinopse:

Os maiores aventureiros da história unidos na mais fantástica aventura.O renomado aventureiro Allan Quatermain (Sean Connery) lidera uma liga de figuras lendárias contra o terror tecnológico que vem sendo imposto por um maníaco conhecido como O Fantasma. Esta liga conta com o explorador oceânico e inventor Capitão Nemo (Naseeruddin Shah), a vampira Mina Harker (Petra Wilson), um homem invisível chamado Rodney Skinner (Tony Currant), um agente do serviço secreto americano Tom Sawyer (Shane West), o imortal e invencível Dorin Gray (Stuart Townsend), e o perigoso Dr. Jekyll / Mr. Hyde (Jason Flamyng) com sua dupla personalidade.
Richard Roxburgh (de Moulin Rouge) interpetra M, o enigmático responsável pelo recrutamento da Liga. Juntos eles terão que superar suas diferenças e unir suas forças para destruir os planos fantasmagóticos de seu oponente que quer acabar com o planeta.
Maçonaria:

Com várias referências a Maçonaria e a outras entidades universais

Confiram a matéria da Revista O Globo...

Maçonaria de portas abertas
A noite é de gala no templo nobre do Palácio Maçônico, na Rua do Lavradio. Todos se levantam quando o grão-mestre surge na porta principal vestido com seu avental azul cheio de detalhes em dourado. Atrás dele, como numa procissão, aparecem outras autoridades, enquanto dos alto-falantes sai uma música medieval, trilha perfeita para o filme “Coração valente”. Parece que vai começar mais uma sessão secreta da maçonaria, mas dessa vez a figura central pertence ao mundo profano. É um candidato à prefeitura do Rio. Político nas duas definições da palavra, antes de entrar ele pede uma gravata preta emprestada para não destoar do traje obrigatório dos maçons. Mesmo assim, parece pouco à vontade diante de tantas formalidades. 

Era o quinto compromisso do candidato naquele dia, embora este não constasse da agenda oficial. O encontro foi discreto, bem ao estilo dos maçons. Depois de uma exaustiva carreata no Engenho Novo, ele foi vender seu peixe na sede carioca do Grande Oriente Brasileiro (GOB), o mais antigo grupo maçônico do país. Mais que um evento político, sua presença ali expõe o despertar silencioso da mais famosa irmandade secreta do mundo. Protagonistas nos principais fatos históricos do Brasil, entre eles as proclamações da Independência e da República, os maçons querem voltar a participar da vida política e dos grandes temas nacionais. Além de ouvir candidatos a prefeito, eles estão a pleno vapor numa campanha pela soberania brasileira na Amazônia, pela cota de negros nas universidades e já se manifestaram oficialmente em questões como a do mensalão e a da Reserva Indígena da Raposa do Sol. 

— Passamos um bom tempo hibernando, voltados para dentro, mas agora despertamos de novo para o mundo exterior. Não aceitamos os desmandos e a desonestidade de certos setores do poder público — afirma o grão-mestre do GOB-RJ, Eduardo Gomes de Souza. 

Antes do primeiro turno da eleição, o GOB recebeu em seu palácio três candidatos a prefeito e um a vice. Todos assinaram um documento se comprometendo a chamar maçons para compor conselhos que vão assessorar as secretarias municipais. Na próxima semana, uma reunião interna vai escolher quem será o candidato indicado pela instituição, Eduardo Paes ou Fernando Gabeira. Com 30 anos dedicados à ordem, nem o eminente grão-mestre, como é chamado com respeito pelos irmãos, lembra a última vez em que isso aconteceu. Mas ninguém está atrás de cargos remunerados, garante o coordenador político-parlamentar do GOB, deputado estadual André Corrêa (PPS): 

— Nunca precisamos de dinheiro do Estado. Queremos apenas oferecer os serviços dos nossos irmãos a governantes que comunguem dos princípios da maçonaria. 

Os princípio básicos da maçonaria — pelo menos os conhecidos — são igualdade, liberdade e fraternidade, os mesmos da Revolução Francesa. Guiada por eles, a ordem já apoiou no Brasil movimentos tão díspares quanto o abolicionismo e o regime militar. De comum, ela manteve apenas a influência ao mesmo tempo decisiva e obscura nos rumos da nação. Ao longo do século passado, com o fortalecimento de outros representantes da sociedade, a maçonaria foi perdendo o protagonismo que agora só resiste em pequenas cidades, onde prefeitos ainda freqüentam gabinetes de grãos-mestres. 

— Até o início do século XX, a maçonaria era muito política. Depois, se tornou mais um clube de filantropia e ajuda mútua, como o Rotary e o Lions — afirma o historiador Marco Morel, primeiro autor não-maçom a escrever um livro sobre a história da irmandade, o recém-lançado “O poder da maçonaria”. 

Para voltar a participar das questões nacionais do século XXI, a maçonaria terá primeiro de superar o imaginário misterioso que a envolve. Desde que foi criada nos moldes atuais, na Inglaterra do século XVIII, a ordem funciona sustentada por rituais, símbolos e códigos secretos que só serviram para multiplicar os mitos sobre ela. Ao longo da História, sempre que a maçonaria rompia com poderes constituídos, como o Estado e a Igreja, proliferavam histórias macabras sobre as atividades nos templos, quase sempre relacionadas a ritos satânicos. Por vezes, os próprios maçons não se preocupavam em desfazer as crendices, para afastar curiosos. 

— Hoje, essa fama nos atrapalha — reconhece Eduardo. 

Os primeiros a subir para o templo azul são os maçons de graus 31, 32 e 33. O ambiente está impregnado do cheiro de incenso. Nas paredes, fica evidente todo o sincretismo da maçonaria. Há quadros de Jesus Cristo, Buda, Maomé, Platão, Rei Frederico da Prússia, faraós e até dos 12 signos do zodíaco. A águia bicéfala aparece de novo, bem como a balança da Justiça. Ao fundo, uma coroa dourada emerge da parede. É uma réplica do templo do Rei Salomão. A primeira palavra de ordem, bradada em voz alta, é reflexo dos novos tempos: 

— Atenção, meus irmãos, desliguem seus celulares. 

Entra, então, um cortejo de maçons paramentados. A música também é de cavalaria. O guarda do templo fica na porta com a espada na mão. Os não-iniciados, então, são convidados a se retirar, mas sabe-se que a sessão é aberta com a leitura da Bíblia e da oração de São Francisco, aquela do “é dando que se recebe”. Do lado de fora, só é possível ouvir um barulho surdo e ritmado, como o de um tronco batendo no chão. A entrada só é liberada de novo quando chegam os “formandos” do grau 30, ao som de uma música de relaxamento. Em vários lugares lê-se “Ordo ab chaos”, ou “A ordem a partir do caos”, um lema maçônico. Quando a iniciação vai começar, os convidados têm de sair novamente. 

Os maçons se preocupam com o vazamento de seus códigos. Alguns dizem, bem-humorados, que esta é a razão pela qual não existem mulheres iniciadas — elas não saberiam guardar segredo. São os sinais secretos que permitem que um irmão reconheça o outro em qualquer lugar. Assim, eles podem cumprir o acordo de colaboração mútua a que se comprometeram na iniciação. Um maçom tem o dever de ajudar o outro como se fosse irmão de sangue, mesmo que não o conheça — e isso inclui emprestar dinheiro e arrumar emprego, por exemplo. Para obrigá-los a continuar freqüentando as sessões, algumas palavras de identificação são mudadas regularmente. Mesmo que não seja esse o propósito, o pacto de irmandade é um chamariz para atrair novos irmãos. Hoje, segundo o GOB, existem cerca de 170 mil maçons no Brasil — de faxineiros a executivos, como eles dizem com orgulho. 

— Eu posso ficar parado no meio de uma praça, em qualquer lugar do mundo, que logo aparecerá um irmão para me ajudar — conta o administrador Mauro Kalife, venerável (chefe) da loja (subgrupo) Lux et Veritas. — Já cansei de ser levado da classe econômica para a primeira classe por um comissário de bordo que me reconheceu como maçom.

A forma de comunicação em gestos e posturas, aliada à diversidade social de seus membros, sempre ajudou os maçons a transitarem bem em todas as camadas da sociedade. De fato, é impossível contar a História do Brasil sem esbarrar em integrantes da ordem. Dom Pedro I era maçom, bem como nosso primeiro presidente, Deodoro da Fonseca, que passou a faixa para outro irmão, Floriano Peixoto. Na República Velha, até 1930, sete presidentes pertenciam à irmandade. Orbitando sobre as autoridades, existiam ainda Duque de Caxias, Rui Barbosa, Benjamin Constant e outros ilustres brasileiros como Santos Dumont, Carlos Gomes, Pixinguinha e Lamartine Babo. Até o palhaço Carequinha era maçom. 

A partir da metade do século XX, a maçonaria foi perdendo sua influência. O último presidente maçom foi Jânio Quadros, que renunciou em 1961. Mesmo assim, a ordem continuou a manter irmãos nas esferas do poder. O General Golbery do Couto Silva, um dos ideólogos do regime militar, era um deles, assim como Mário Covas, Miro Teixeira e Antonio Palocci. Tão variadas quanto seus representantes são as ideologias da ordem. Ao longo da História, a maçonaria oscilou entre posições conservadoras e progressistas. 

— Por mais que eles tenham sempre caminhado no sentido da unificação, nunca houve uma maçonaria, mas várias maçonarias — diz o historiador Morel. 
Mesmo internamente, a maçonaria não é única. Cisões no GOB fizeram surgir dois outros grupos reconhecidos, a Grande Loja e o Grande Oriente Independente. Apesar de uma ou outra diferença de ritos, as três mantêm relações amistosas entre si. A estrutura delas é idêntica à do Estado brasileiro, dividido em três poderes. O Judiciário pode até condenar à expulsão um irmão que tenha manchado o nome da ordem. Todos os cargos são escolhidos por eleição direta. 

— Estamos envolvidos em causas de interesse público, sempre a favor da democracia. Nosso objetivo é pretensioso: fazer a Humanidade mais feliz — afirma o sereníssimo grão-mestre da Grande Loja do Rio, Waldemar Zveiter, de 76 anos, 54 de maçonaria. 

Ex-ministro do Superior Tribunal de Justiça, Zveiter está engajado em diversas ações da maçonaria acerca de temas nacionais. Dá palestras e escreveu um livro contra a entrada de empresas estrangeiras na Amazônia que já foi lido no Senado. A Grande Loja também está, como pessoa jurídica, a favor das cotas para negros nas universidades. 

— Lançamos campanha de planejamento familiar antes da Igreja Católica — afirma o grão-mestre. 

No gabinete de Zveiter, existe um quadro que, segundo ele, é a reprodução de um ritual da ordem. Nele, uma pessoa está ferida na testa, enquanto outra segura um martelo. Mais explicações ele não pode dar. Na sala do grão-mestre do GOB-RJ, o retrato de destaque é o de José Bonifácio, o primeiro grão-mestre brasileiro e, mais ao fundo, o de seu sucessor, Dom Pedro I. No gabinete ao lado, está bem conservado o trono de grão-mestre usado pelo Imperador. Símbolo máximo da proximidade dos maçons com o poder, a relíquia tem tudo para servir de inspiração para as novas pretensões da maçonaria brasileira.

Photobucket - Video and Image Hosting


Photobucket - Video and Image Hosting


Photobucket - Video and Image Hosting


Photobucket - Video and Image Hosting


Photobucket - Video and Image Hosting


Photobucket - Video and Image Hosting